Ele voava. Voava por entre as nuvens assim como um pássaro que a nada mais interessa além da sua liberdade. Ia com o vento que definia para onde iria, definia o seu destino. Dia após dia, ano após ano, vida após vida. Ele e o vento. Existia algo entre os dois, como que se um fosse feito pelos deuses para amar o outro, para irem eternamente juntos para todos os lugares que quisessem ir. Ele abria os braços e sentia, apenas sentia, se entregava àquilo de mais belo e puro que se possa imaginar, sutil.. e lindo. Apenas sentia e ia, ia, ia... Havia magia, haviam lindas paisagens e eles brincavam nas cores do arco-íris. Se por ventura ele ficasse triste o vento acariciava os seus cabelos e cantava para alegra-lo, ordenava as folhas que lhe fizessem uma festa, onde dançariam magicamente para ele. O homem não podia ver o vento, mas ele podia senti-lo sempre perto, muito perto. Sem o vento, para ele não havia a felicidade, era o vento que o levava para os lugares mais lindos que ninguém além deles pode imaginar. O vento fora feito para aquilo e um sem o outro não haveria qualquer sentido.
O homem vivia preso no mundo desencantado onde só existiam o cinza dos asfaltos e a fumaça dos carros, vivia sonhando em voar, sabia que nascera para voar.. mas sentia medo. O primeiro encontro dos dois se deu em uma noite linda, a lua iluminava tudo e havia uma estrela que brilhava como duas. O homem foi na janela, e pela primeira vez pode ser aquilo que sempre foi. Abriu os braços e com o vento se encontrou. Foi lindo, foi lindo.. Ele sentia aquilo que pensava fazer parte apenas do mundo dos seus sonhos naquele quarto encantado onde passava seus dias e noites sonhando com o vento, com medo de voar. Ele sabia, nascera para ser pássaro e voar, voar.. aquele mundo de pessoas com os pés no chão aprisionadas nas suas casas, com a cabeça sempre nas suas contas não era para ele. Ninguém o compreendia, até de louco foi chamado. –Como pode alguém querer um pássaro ser? E vivia ali. Chegou a pensar que a solidão seria a sua eterna companheira e que nunca poderia sentir de verdade aquele mundo de fantasia e liberdade o qual vivia sonhando. Um dia resolveu voar, ele foi contra tudo e contra todos e voou. Abriu os braços e encontrou quem estava a tanto e tanto tempo na sua janela, que invadia seu quarto todas as noites para os seus sonhos alegrar, e dizer sempre “eu estou te esperando, sei que virá.”, e estava lá, também de braços abertos a lhe esperar, para o envolver na maior felicidade que jamais imaginara poder um dia sentir. E foram.. foram para o lugar de onde vieram e que por algum motivo um dia tiveram que deixar, um lugar onde reinava a paz, o amor, a pura felicidade. Viviam no céu e o azul das tardes era o que banhava os seus corações. Eles, juntos todos os dias podiam, lá do alto ver o por do sol da maneira mais linda que ninguém além deles possa imaginar.
O homem que agora não era só mais um homem, era um pássaro. O homem queria ser livre, o vento era a liberdade.
O homem e o vento – Eu e Você.
S2’
Jessicartco.
19.5.11